2 de nov. de 2011

Nova York
Logo de saída conhecer o projeto do 
Teatro do Oprimido de Nova York,
que trabalha com pessoas em situação 
de rua na cidade, me fez pensar por que 
motivos, escolhas e possibilidades diferentes,
estar desalojado é uma grande experiência
de transformação. O Teatro do Oprimido do
 brasileiro Augusto Boal, inspirado pelo 
pensamento de Paulo Freire, é potência em 
qualquer lugar do mundo e se localiza  porque
 faz sentido como ferramenta de trabalho 
em grupos humanos e seus dramas 
pessoais. Encontrar esse pensamento e ver 
que territorialidade ou casa se constroem 
mais pelo sentido do que por pura 
localidade, deu força extra para eu me 
aventurar por novos territórios (de sentido),
 mas  também de falta dele.
Laos
Existe um fascínio óbvio para quem vive 
em megacidades como São Paulo em 
conhecer partes remotas do planeta. Sim, 
isso foi inspiração suficiente para conhecer 
afluentes do Rio Mecong, no Laos. 
Em um barco minúsculo, a navegação 
pelos rios que levam de Luang Prabang até 
a fronteira com o Vietnã me devolveu a 
sensação de que existem  ainda áreas 
preservadas e distantes do tipo de 
desenvolvimento que hoje tentamos rever 
pelo mundo afora. Há um risco de se 
visitar o Laos sem outra pertinência que 
 a de ir ver, que é o de incentivar um 
turismo que faz de comunidades inteiras 
zoológicos humanos, e transforma turistas
 em cifras de dólares. Fugindo disso, ainda 
tenho em mim a força das florestas e do 
povo que vive imerso nessa paisagem.  
Golden Temple
Ao anoitecer, os guardiões do templo se
juntam aos peregrinos e limpam cada
centímetro do espaço visitado por milhares 
de pessoas por dia. Sem grande alarde, eles
se juntam e iniciam os trabalhos cantando.
Dividem a tarefa sem conversa. Cada um
sabe ou aprende ali onde tem que ir,
o que tem que ser feito. Os peregrinos que 
integram o grupo a cada noite exalam um 
ar de profunda satisfação pela oportunidade 
de servir. Servir é o momento supremo de 
pertencer ao que mais acreditam e que rege 
muitas vezes toda uma vida. A cena é de 
um teatro medieval, o acontecimento  é 
simples, cotidiano e inteiramente sagrado, a
 limpeza do templo é um contraponto absoluto 
a toda sujeira que cobre por inteiro as 
cidades da Índia. Ali, limpam-se almas!
Holy cow!
Aprender a cuidar melhor de mim foi uma
 parte importante desta viagem, o curso que 
fiz de aiurveda em Kannur, Kerala, me deu 
de presente uma porta de acesso à cultura
antiga da Índia que eu não tenho palavras
para agradecer. O conhecimento sobre a vida- 
aiurveda- é uma porta para aprender
sobre ioga, culinária, ervas, óleos, massagens 
e processos de cura. Entender a base dessa 
medicina  ajuda a conectar com uma Índia 
que está se perdendo rapidamente, e que todo 
o Ocidente está indo buscar, tentando 
preservar, usufruir e divulgar. A Índia é um 
escândalo! Existe algo realmente forte por lá. 
Mesmo que você se negue a mudar um pouco 
a forma como vive no mundo, não vai 
adiantar. Renda-se.   
Ao topo do mundo!
Visita a Sagarmartha!
Não se escolhe subir a 5550 metros,
caminhando por longos 14 dias apenas por
pura diversão ou amor a caminhadas e 
montanhas altas. Depois de uma longa 
viagem, sobre a qual provavelmente vou 
refletir por muitos anos, subir a montanha foi 
uma maneira de deixar o mundo às minhas 
costas, focar mente, cansar o corpo e descansar
 as emoções. Aí, então, um esforço extra 
significou uma recompensa extra, a montanha 
é generosa, fortalece o corpo, silencia a 
mente e equilibra as emoções. Ao chegar ao 
topo, se pode olhar de cima um mundo, 
meu mundo. Olhar o caminho que fiz. 
O maior desafio é certamente a jornada 
interior. Saber aproveitar a oportunidade 
de estar no topo do mundo, em uma 
comunidade budista e olhar para si. 

Matéria publicada na revista Lindenberg.
Que delícia conviver com uma irmã que fez
uma viagem tão interessante e poder
aprender com as experiências dela.
Um dia eu vou tirar o meu ano sabático,
com um par de Havainas e um de tênis... 

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