Nova York
Logo de saída conhecer o projeto do
Teatro do Oprimido de Nova York,
que trabalha com pessoas em situação
de rua na cidade, me fez pensar por que
motivos, escolhas e possibilidades diferentes,
estar desalojado é uma grande experiência
de transformação. O Teatro do Oprimido do
brasileiro Augusto Boal, inspirado pelo
pensamento de Paulo Freire, é potência em
qualquer lugar do mundo e se localiza porque
faz sentido como ferramenta de trabalho
em grupos humanos e seus dramas
pessoais. Encontrar esse pensamento e ver
que territorialidade ou casa se constroem
mais pelo sentido do que por pura
localidade, deu força extra para eu me
aventurar por novos territórios (de sentido),
mas também de falta dele.
Laos
Existe um fascínio óbvio para quem vive
em megacidades como São Paulo em
conhecer partes remotas do planeta. Sim,
isso foi inspiração suficiente para conhecer
afluentes do Rio Mecong, no Laos.
Em um barco minúsculo, a navegação
pelos rios que levam de Luang Prabang até
a fronteira com o Vietnã me devolveu a
sensação de que existem ainda áreas
preservadas e distantes do tipo de
desenvolvimento que hoje tentamos rever
pelo mundo afora. Há um risco de se
visitar o Laos sem outra pertinência que
a de ir ver, que é o de incentivar um
turismo que faz de comunidades inteiras
zoológicos humanos, e transforma turistas
em cifras de dólares. Fugindo disso, ainda
tenho em mim a força das florestas e do
povo que vive imerso nessa paisagem.
Golden Temple
Ao anoitecer, os guardiões do templo se
juntam aos peregrinos e limpam cada
centímetro do espaço visitado por milhares
de pessoas por dia. Sem grande alarde, eles
se juntam e iniciam os trabalhos cantando.
Dividem a tarefa sem conversa. Cada um
sabe ou aprende ali onde tem que ir,
o que tem que ser feito. Os peregrinos que
integram o grupo a cada noite exalam um
ar de profunda satisfação pela oportunidade
de servir. Servir é o momento supremo de
pertencer ao que mais acreditam e que rege
muitas vezes toda uma vida. A cena é de
um teatro medieval, o acontecimento é
simples, cotidiano e inteiramente sagrado, a
limpeza do templo é um contraponto absoluto
a toda sujeira que cobre por inteiro as
cidades da Índia. Ali, limpam-se almas!
Holy cow!
Aprender a cuidar melhor de mim foi uma
parte importante desta viagem, o curso que
fiz de aiurveda em Kannur, Kerala, me deu
de presente uma porta de acesso à cultura
antiga da Índia que eu não tenho palavras
para agradecer. O conhecimento sobre a vida-
aiurveda- é uma porta para aprender
sobre ioga, culinária, ervas, óleos, massagens
e processos de cura. Entender a base dessa
medicina ajuda a conectar com uma Índia
que está se perdendo rapidamente, e que todo
o Ocidente está indo buscar, tentando
preservar, usufruir e divulgar. A Índia é um
escândalo! Existe algo realmente forte por lá.
Mesmo que você se negue a mudar um pouco
a forma como vive no mundo, não vai
adiantar. Renda-se.
Ao topo do mundo!
Visita a Sagarmartha!
Não se escolhe subir a 5550 metros,
caminhando por longos 14 dias apenas por
pura diversão ou amor a caminhadas e
montanhas altas. Depois de uma longa
viagem, sobre a qual provavelmente vou
refletir por muitos anos, subir a montanha foi
uma maneira de deixar o mundo às minhas
costas, focar mente, cansar o corpo e descansar
as emoções. Aí, então, um esforço extra
significou uma recompensa extra, a montanha
é generosa, fortalece o corpo, silencia a
mente e equilibra as emoções. Ao chegar ao
topo, se pode olhar de cima um mundo,
meu mundo. Olhar o caminho que fiz.
O maior desafio é certamente a jornada
interior. Saber aproveitar a oportunidade
de estar no topo do mundo, em uma
comunidade budista e olhar para si.
Matéria publicada na revista Lindenberg.
Que delícia conviver com uma irmã que fez
uma viagem tão interessante e poder
aprender com as experiências dela.
Um dia eu vou tirar o meu ano sabático,
com um par de Havainas e um de tênis...