CLARISSE
Ontem à noite, fui procurar na minha
estante, um livro que me fisgasse com
suas palavras, agora que estou fazendo
aula de redação, leio prestando a maior
atenção no jeito que um livro é escrito...
e a história, vem depois. Para ler o livro
da moda, 50 Tons de Cinza, vou ter
que inverter meu interesse atual,
e focar bem mais na história, rsrs,
mas voltando para ontem, eu peguei
Clarisse na Cabeceira, livro com fragmentos
dos seus romances, que já li e ainda vou
ler mil vezes. Como disse Hélène Cixous,
"Clarisse não escreve em português,
mas em lispector". Reli o capítulo com
trechos de "Um Sopro de Vida", seu último
e inacabado livro, onde ela fala muito
da "coisa", depois fiquei imaginado se
ela tivesse escrito um romance erótico...
Teria sido a "coisa erótica" mais erótica
já escrita na face da terra, nem virando o
livro de ponta-cabeça, como diz uma
amiga que esta no terceiro volume do Tons,
daria para imaginar a "coisa erótica"
da Clarisse...
"Não posso ficar olhando demais um objeto senão ele me
deflagra. Mais misteriosa do que a alma é a matéria.
Mais enigmática que o pensamento, é a "coisa".
A "coisa" é coisa propriamente estritamente a
"coisa". A coisa não é triste nem alegre: é coisa.
A coisa tem em si um projeto. A coisa é exata.
As coisas fazem o seguinte barulho: chpt! chpt! chpt!
Uma coisa é um ser vivente estropiado. Não há
nada mais só do que uma "coisa".
"Palavra também é coisa - coisa volátil que pego no
ar com a boca quando falo. Eu a concretizo."
Clarisse Lispector
Trechos de "Um Sopro de Vida"